domingo, 3 de agosto de 2008

Soldadinho de Chumbo

Como se sabe, o verdadeiro nome de Stálin era José Dhugashivili (იოსებ ჯუღაშვილი ), que como tudo em georgiano, soa como uma melodia e lê-se como um dialeto mágico ancestral, perdido nas eras. Assim como outros notórios filhos da puta, como Alexander Crowley, José tinha uma repugnância profunda pelo modo com que se chamava. No verdor de sua juventude, assinava Besoshvili (Diabólico). E na medida em que subia sua estrela no partido bolchevique, inventou um novo nome, pelo qual ficou conhecido. É a combinação de um termo em alemão (Stahl, aço) com um sufixo comum ao georgiano, japonês e chinês, jin (homem). Ou seja, o ditador de todas as Rússias quis personificar uma espécie de Exterminador do Futuro, com a diferença de que seu extermínio era em nome do futuro glorioso.

A redução do humano ao infrahumano, aí, se torna óbvia. Entra para o museu de aberrações mecanicistas produzidas desde que Montesquieu notou que poderia descrever todo o desenvolvimento civilizacional como engrenagens encaixadas se movimentando, e no qual se encontram as palavras do próprio Lênin, para quem a URSS era um automóvel difícil de dirigir. Além desse aspecto, creio não exagerar ao dizer que Stálin transformou a si mesmo em cartaz de propaganda da técnica triunfante, que extrapola seus limites e tenta fabricar uma sociedade nova a partir da matéria inerte da humanidade presente. O Czar Vermelho foi, ele mesmo, um homem novo, no molde socialista. Ei-lo, em sua plenitude, caindo ao nível ontológico dos soldadinhos de chumbo.

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