domingo, 21 de setembro de 2008

O Ego sem poder

Deus me livre do exibicionismo, das vaidades expostas em vitrines, das falsidades e pseudo-erudições que borbulham em nossos tempos sombrios. Saí do orkut por não aguentar mais a ostentação maluca de conhecimentos sublimes e ciências elevadas, a patacoada intermitente, as discussões vazias que se presumiam grandiosas. E noto que os blogs são ameaçados pelo mesmo mal.

É fascinante acompanhar uma Bildung, claro. De fato, a acusação mais frequente àqueles que procuram fazerem-se a si mesmos é a de egoísmo. E também é certo que blogs precisam, em alguma medida, de uma perspectiva pessoal e mesmo de digressões a respeito de seus autores. O que põe tudo a perder é o desvio de foco de uma inteligência individual, que pode ser bem-humorada e culta e cujos vaticínios merecem uma leitura atenta, para uma série de virtudes inexistentes e uma personalidade falsa, embora impressionante. E quantos blogs não têm essa característica mórbida? Quantos não saem da sinceridade para entrar na auto-exaltação? Inumeráveis! Ora, se um sujeito escreve para quem quer ser engando, não deve ser lido, a menos que a enganação seja ela própria um recurso estilístico, que se torna cômico por ser conhecido. Não creio, porém, que os orkuteiros consigam manejar essas sutilezas.

sábado, 13 de setembro de 2008

Struggle for Life

O que acontece quando um liberal, liberalzão mesmo, resolve pontificar sobre os fundamentos da cultura do Ocidente?

Isso:

"O Ocidente assenta, desde há muito, a sua civilização, isto é (para evitar mal entendidos), as suas concepções societárias nucleares, na tradição, na cultura e na religiosidade cristãs. Por conseguinte, incorporou nos preceitos essenciais das suas religiões as regras morais e os procedimentos sociais fundamentais, que foram burilados e seleccionados ao longo de séculos."


sábado, 6 de setembro de 2008

Calvinismo a toda prova

Tio Carpeaux dá o leitmotiv de uma excelente discussão, no inicio dos Ensaios Reunidos:

Surge a velha desconfiança do calvinista contra o poder temporal: não existe poder temporal de direito divino; mais depressa será de direito satânico. "O mal, como mal, domina freqüentemente sobre a terra, e por muito tempo, e a doutrina verdadeiramente cristã chama Lúcifer de príncipe deste mundo." Sobretudo "todo poder é mau". "Todo poder é mau."


Creio que o modo de alinhar, ou contrariar essa proposição, é aquilo que determina mais claramente a posição política de um sujeito. A mim, ao menos, a tese referida já causou alguma insônia. Afinal, que justificativa se poderia apresentar para se rejeitar a concentração e a centralização do poder estatal, senão a afirmação que o Poder Temporal é, em si mesmo, mau? Entretanto, como conciliar (se for possível) um negócio tão extravagante com a consecução do governo ao Bem comum?

Sei lá, bicho. Mas encontrei no desafio de Calvino o incentivo para estudar ciência política seriamente.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

O Tempora, o Kali Yuga!

Valiosas palavras do blogueiro português Ruy Oliveira:

"Não sou daqueles que anda para aí a clamar pela decadência da moral actual quando comparada com a de antanho. Afinal a queixa sobre a decadência dos valores vem já da Antiguidade; parece que há sempre uma saudade por um passado de ouro (verdadeiro ou mitificado...). Por isso não alinho nesse tipo de choradeiras."