sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Aceitar as complexidades

Na arena política, só a esquerda age monoliticamente, escamoteando as semelhanças estruturais com uma multiplicidade estupenda de variações. O prório anarquismo (em sua definição clássica, o comunismo que não deu certo) termina a serviço da mesma estratégia adotada por social-democratas, extremistas e congêneres. Isso tem uma implicação interessante: esquerda é que nem filme pornô, conhecendo-se um exemplar, conhecem-se todos.

Com a direita, pensar nessa chave é suicídio. Aquele que enveredar pelo caminho das facilidades terminará imbecilizado, trêmulo diante das sutilezas que marcam e realçam cada elemento do amplo leque político conservador. Dos libertários semianarquistas aos imperialistas tradicionais, dos neocons insandecidos aos saudosos da Idade Média, dos monarquistas liberais aos liberais antimonarquistas, e destes aos monarquistas antiliberais, a variedade é deslumbrante. Não é à toa que as disputas e polêmicas sérias contra direitistas exigem uma preparação extensa. Digamos que um incauto resolva refutar o liberalismo. Terá que distinguir entre o clássico e o moderno, o progressista hayekiano e o mais propriamente conservador, o alheio a todas as religiões e o que procura reforçá-las, e por aí vai. O negócio não é brincadeira. Da mesma forma, os que acham que a monarquia é só uma estatolatria maquiada também hão de pagar mico se persistirem nesses slogans bobos.

Obviamente, é válido procurar um princípio unificador da direita, mas me parece que a coordenação de suas variedades é simplesmente impossível. Toda tentativa nesse sentido provavelmente seguirá o percurso da National Review: começará misturando descuidadamente libertários e paleocons, e terminará elegendo roqueiros.

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